8 de abril de 2010

Meu curioso caso ...

Confirmei minha tese de que percepção consiste numa tríade: de experiência, sensibilidade e momento. Por isso um filme nunca é. Ele torna-se. Torna-se algo pra mim e outro algo pra você [tudo depende de quem somos no instante da percepção].
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Nesta semana, eu me rendi a O Curioso Caso de Benjamin Button, apesar de vários comentários contra. Sim, eu percebi seus clichês e os equívocos de Fincher. Mas, sinceramente, não liguei pra nada disso. Foram duas horas e 40 minutos de pura magia, de diálogos intensos e de complexas reflexões sobre minha própria linha do tempo. Eu já pensava, cá com meus botões, que não é o tempo que nos diferencia dos outros, mas as fases a que o tempo nos permitiu chegar. E Benjamin Button é a figura dessa minha fábula: sua narrativa trata da luta entre o tempo (que é igual para os dois amantes) e as fases no tempo (desgraçadamente diferentes para eles).
Ao contrário da interpretação de muitos, Button me mostrou que o tempo não é soberano. Ele age sobre nós, sim, mas são as escolhas que fazemos sobre o tempo que mudam nosso caminho. Há tempo para tudo o que queremos fazer, e para todas as pessoas que queremos ser. Não é o tempo quem nos diz o que escolher agora – nós fazemos nosso próprio tempo. Somos diferentes e nos sentimos diferentes, mas vamos todos na mesma direção – cada um por seu próprio caminho.
Alguma crítica me disse que a única chance de amar que aqueles personagens tinham estava na época em que ambos aparentavam idades semelhantes. Discordo. Não existia apenas um momento deles para o amor – eles amaram até o final – existia, sim, uma escolha sobre o tempo. Eles escolheram estar juntos, no tempo da relação, e amar por toda a vida, independente da idade.
Depois de Button, eu nunca mais culparei o tempo por nada [e sugiro que você faça a mesma coisa]. Afinal, “nossa vida é definida pelas oportunidades” (tanto por aquelas que abraçamos, quanto por aquelas que deixamos partir).
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Também depois de Button não confio mais em críticas cinematográficas [nem de profissionais, nem de amigos].

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