11 de novembro de 2010

querido Paul

Sei que tuas intenções foram das melhores. Teu respeito ao público é coisa rara. Teu talento, indiscutível. Tua disposição venceu a de um estádio. Tua música é amor, o mais puro humano-amor. Mas sinto que não deveria ter ido a aquele show. Minha vida mudou ao te ver, e ainda não sei se isso é positivo. Calma, vou te explicar por que [e acho até que você, Sir., vai me dar razão]. Veja bem, depois de domingo:
Meu computador toca Beatles e não me concentro em mais nada.
Não consigo ouvir Something sem chorar.
Não existe pra mim pirotecnia sem Live and let die.
Minha tatuagem já não faz mais sentido.
Sinto como se continuasse anestesiada pelo teu som.
E ainda não tive coragem de tocar nos meus vinis de novo.
Penso mais em teu Tchê estrangeiro do que em qualquer outra tradição.
E as vezes me pego frente ao espelho ensaiando teus sinais.
Quase bati o carro ontem, quando o rádio tocou I've just seen a face.
Tenho me sentido como Eleanor Rigby.
Parece até que minha culpa de mãe aumentou, por ter assistido aquilo sozinha.
Minha vida não rola mais como a de Desmond e Molly.
É como se a sensação que vivi ali, contigo, fosse tão majestosa que não se pudesse mais alcançá-la.
Então estive pensando que um espetáculo desses é coisa pro fim da vida. É como gran finale: quando a pessoa pensa que já viu tudo, vem você, pra surpreender. Do contrário, a gente fica assim, imaginando que nada mais pode acontecer de tão magnífico daqui pra frente.
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The End.